O poder da audição sobre a visão

O som na vida humana

A audição é um dos cinco sentidos do ser humano e também é o primeiro a se desenvolver no corpo humano, geralmente por volta da 12ª semana após a concepção, quando o feto humano já tem a capacidade de perceber algumas vibrações sonoras.

Uma vez que a pessoa nasce e o ouvido externo, médio e interno estão formados, a audição pode ser descrita como um processo fisiológico no qual as ondas sonoras entram no canal auditivo, atingem o tímpano e o fazem vibrar.

O som é então transmitido através dos ossículos para o ouvido interno, onde as vibrações do estribo movem o fluido na cóclea, e as mudanças alternadas de pressão fazem a membrana basilar com o aparelho de Corti mover as células ciliadas. Uma vez que as células ciliadas sensoriais são estimuladas, os impulsos são enviados pelo nervo auditivo para o cérebro para processamento. 

A audição em adultos é caracterizada por sua alta sensibilidade tanto em frequência quanto em intensidade, que é paradoxalmente maior do que no caso da visão.

Normalmente, pessoas que ouvem e veem são capazes de distinguir cerca de 1300 tons, mas apenas cerca de 150 tons de cores.

 

A habilidade de ouvir não apenas tons separados, mas também intervalos sonoros, como quartas, quintas ou oitavas, e acordes (usados, por exemplo, na música), torna a audição única.

Outra característica interessante da audição é seu caráter omnidirecional.

Não podemos fechar nossos ouvidos como fechamos nossos olhos e somos capazes de ouvir fontes sonoras que podem estar situadas atrás ou acima de nós, mesmo sem vê-las. E não apenas ouvimos, mas também podemos localizá-las usando pistas binaurais e monaurais.

 

 

A audição, como um processo fisiológico, é apenas uma ação passiva, resultado do nosso sistema auditivo. O aparelho auditivo também é muito semelhante de pessoa para pessoa. Ainda assim, temos nossas preferências em estilos musicais ou habilidades em entender idiomas.

É graças a um processo cognitivo chamado escuta que segue o caminho no cérebro assim que a informação auditiva chega. A escuta é, portanto, uma ação ativa que requer nossa cognição e pode ser consciente ou subconsciente, concreta ou abstrata, intuitiva ou conceitual.

Característico dos processos cognitivos é o uso de conhecimento existente que leva a um novo conhecimento. Em relação às investigações sonoras e do ambiente sonoro, a memória acústica afeta significativamente nossos julgamentos e emoções também.

A Paisagem Sonora

O ambiente criado pelo som, chamado de “paisagem sonora” ou “soundscape”, pertence às características significativas da vida humana. A paisagem sonora é constituída nos encontros diários entre os ouvintes e os sons que os cercam. Portanto, para estudar a paisagem sonora de um determinado local, precisamos considerar o ambiente acústico e sua percepção social ao mesmo tempo. 

Os métodos de avaliação da paisagem sonora geralmente utilizam uma abordagem qualitativa e sintética, semelhante à avaliação musical. A aplicação desse conhecimento no design é, portanto, muito diferente em comparação com abordagens analíticas de engenharia em acústica de salas ou controle de ruído. 

Os estudos de paisagem sonora se tornaram muito populares durante a última década graças a uma melhor compreensão entre arquitetos e acústicos. No entanto, é dada uma atenção muito limitada à percepção de pessoas com habilidades sensoriais diversas.

A bioacústica, arte e educação

O que é a bioacústica.

A bioacústica é uma linha de pesquisa dentro da biologia e hoje ela abrange as neurociências, fisiologia, ecologia, matemática, musicologia, linguística, etologia e taxonomia.

A bioacústica estuda a emissão de sons pelos animais com finalidade de comunicação e ainda ruídos gerados por seres vegetais, as vibrações e sons, audíveis ou não aos seres humanos, de origem natural ou provenientes de perturbações causadas por atividades humanas.

Atualmente, pesquisadores têm se dedicado não apenas aos estudos envolvendo a emissão, recepção e percepção de ondas sonoras por organismos vivos, mas também à compreensão das paisagens sonoras como um todo. Recentemente, surgiu uma nova área de pesquisa que integra a bioacústica, a ecologia e também a biologia da conservação, ela é chamada de Ecologia Acústica ou Ecoacústica.

Os sons formam uma trama, uma rede, uma tessitura à nossa volta. Podemos não perceber, mas estamos o tempo todo imersos nos estímulos acústicos. Quando nos atentamos ao mundo sonoro, podemos perceber certos padrões e ritmos em diversas escalas, únicos a cada local do mundo.

 

Do coral das aves que acorda antes da alvorada e segue até o começo da manhã, ao silêncio que se segue durante as horas mais quentes do dia, a chegada dos sons dos insetos durante a tarde e noite a dentro, o intenso coaxar dos sapos no crepúsculo, o som de um rio, que em dias de chuva se torna mais caudaloso, o som do vento ao passar pelas árvores.

Os primórdios da música

O ser humano é capaz de produzir uma infinidade de sons e, de forma intrigantes, podemos presumir ainda que a música existe na nossa espécie há mais tempo que a linguagem. Ao investigarmos a história da música na espécie humano, notamos flautas pré-históricas encontradas na Europa entre 40.000 e 53.000 anos atrás, e provavelmente manuseadas por ancestrais neandertais. Ainda em relação ao homem.

Os sons permeiam o nosso cotidiano e, portanto, tem potencial para serem explorados no desenvolvimento dos sentidos, suporte para matérias de diferentes níveis e comoção para mudanças positivas frente à percepção e conservação do meio ambiente.

O som na educação

A bioacústica pode ser implementada de inúmeras formas na educação: nos conteúdos de ciências e biologia, especialmente na educação ambiental: na disciplina de física, com inúmeros exemplos de como os animais se utilizam das características físicas do seu meio para se comunicar; no estudo dos sentidos, inclusive na ausência deles. O som é um tema da arte, da música, da produção audiovisual, dos jogos digitais.

A bioacústica e a paisagem sonora oferecem temas e perguntas transversais, capazes de juntar a ciência e o cotidiano, a física e a biologia, a história e a sociologia, a saúde e o bem estar, a arte e a matemática, a tecnologia e a transformação social. O som, na educação, é tanto conteúdo quanto meio.

 

Inerente a si, a bioacústica apresenta esse caminho para aprender a ouvir, o poder de despertar individualmente e coletivamente aquela escuta crítica da qual Paulo Freire tão belamente falava, e estendê-la, para além das nossas vozes humanas, para as vozes dos seres que nos cercam, e até para a voz da própria Terra em seus belos ritmos e, mais que isso, reverter a cacofonia que criamos, dando espaço para que os outros seres voltem a povoar a paisagem sonora do mundo com suas vozes, para possamos novamente afinar nossa audição e admirar a grande orquestra da natureza.

Este post cita trechos do livro Metodologias Ativas – Editora Ducere Convicções, Capítulos X e XI

O Caminho

Vivemos numa sociedade regida pela visão. O culto a visão está sem controle.

Tudo começou com a popularização da televisão de tubo nos anos 30 e foi revolucionado pelos smartphones em 2008. O vício visual vai além dos cristais líquidos, hoje, num concerto de música, a plateia é hipnotizada por centenas de luzes estrábicas que fazem piruetas intermináveis. Por onde andamos vemos projeções, vemos telas, leds, câmeras. O espelho virou self e o real foi aumentado ou virtualizado.

Hoje, enxergamos muito e ouvimos muito e escutamos pouco.

A Revolução Industrial foi o gatilho do processo de auto dessensibilização da audição humana. A criação da máquina a vapor, os teares industriais e o maquinário pesado. A rede elétrica com um zunido frequente quando foi criada ainda vive no ruído do ar condicionado presente na vida ordinária.

Como era escutar o centro de uma grande cidade no século XVI? E como é atualmente? O ruído das cidades, das fábricas, dos transportes, dos shoppings e de outras fontes sonoras contribuíram para não prestarmos atenção no som ao redor.

O vício em telas somado à poluição sonora resulta numa vida sob stress.

Como a arte pode ajudar?

Há pesquisas que afirmam que batimentos cardíacos do ser humano diminuem de ritmo quando estão em contato com a natureza. Passear pela floresta, descansar numa praia ou debaixo de uma árvore, estes pequenos atos de ter a natureza como parceira aliviam até a pressão sanguínea. A principal teoria da natureza como calmante se baseia em estudos sobre a memória genética. Podemos deduzir também da teoria da evolução de Darwin. O homo sapiens moderno possui 160 mil anos. Digamos que há cinco mil anos, nós criamos as primeiras megalópoles de pedra e nos mudamos para lá. Ou seja, nos últimos 155 mil anos, nosso corpo foi desenvolvido para sobreviver imerso à natureza.

E para quem já passou um dia numa cachoeira, não é preciso cientistas para nos dizer que a sensação após esta experiência é de calma e relaxamento.

O objetivo da Natureza Sônica é re-sensibilizar as pessoas por meio do som. É ensinar que a natureza influencia diversas camadas de nosso inconsciente e que ela somada a música e tecnologia, tem o poder de alterar nosso estado físico e mental.

Áudio Espacial – O futuro do som

O áudio espacial é um formato de som de 360 graus, ou em três dimensões que recria um efeito de som surround através de alto-falantes ou fones de ouvido.

Minha primeira experiência com áudio espacial foi na Universidade de Artes de Tóquio em 2010, quando o professor apresentou gravações das ondas do mar num sistema de som 3D dentro da sala de aula. Haviam 30 alto-falantes ao redor e no teto da sala. O som da onda crescia na minha frente e quebrava atrás de mim. Ele apagou a luz e, depois de 10 minutos, eu senti o cheiro de sal e umidade do mar (sem nenhum mar por perto).

Eu afirmo, por experiência própria, que o som espacial(bem feito) recria qualquer ambiente acústico. Esquecemos que também ouvimos com a pele, o maior órgão humano. A onda sonora é uma pressão que sentimos pelo corpo, e que na maioria das vezes, processamos em nosso inconscientemente.

Natureza Sônica no Youtube

Natureza Sônica é um projeto desenvolvido para apreciar os sons da natureza, proporcionando calma e paz aos ouvintes. Hoje em dia, as pessoas procuram conteúdo de áudio e vídeo para ajudá-las a dormir e relaxar. Existem canais no YouTube com milhões de visualizações apenas com o som da chuva ou perto de um rio. O ASMR deu uma nova visibilidade aos efeitos sonoros.

O som da natureza desperta uma sensação de calma e traz paz interior. A Natureza Sônica é feito a partir de belas paisagens capturadas por uma câmera de alta definição, estática no nível dos olhos, apenas filmando o vento balançando as folhas. A paisagem sonora é gravada por um microfone 3D, que captura o som de todas as direções.

O áudio é mixado em um formato binaural, onde o usuário pode ter uma sensação espacial usando fones de ouvido. O vídeo também mostra caixas de pop-up que identificam qual animal está vocalizando naquele momento. A pessoa aprende os nomes daquele animal específico e relaxa ao mesmo tempo.

Natureza Sônica Ao Vivo

A Natureza Sônica ao vivo a principal linha de frente do projeto. Como dito anteriormente, nós ouvimos por todo nosso corpo, neste formato, caixas de som são espalhadas por todo ambiente com objetivo de simular o máximo de exatidão acústica de uma paisagem sonora natural. São normalmente 70 canais de áudio por apresentação, sincronizados por um mix de tecnologias de som espacial e por um software criado por mim especialmente para este projeto.